Se você está procurando aulas de espanhol online, pode ser que se depare com os movimentos separatistas na Europa, que são consequência de séculos de mudanças e transformações dos reinos feudais e suas fronteiras.
Com a formação dos estados nacionais modernos por volta do século XVI, povos de diferentes culturas e etnias acabaram sendo unificados em uma só nação por meio de conquistas e guerras. É por isso que na Espanha se fala o castelhano (espanhol).
Neste texto você irá conhecer mais sobre a Catalunha, região da Espanha que luta por sua independência há mais de 200 anos.
Dias atuais: plebiscitos e consultas pela independência catalã
O movimento pela independência da Catalunha voltou a ganhar os noticiários no dia 1º de outubro de 2017. Nesta data, ocorreu uma consulta popular na região, e a pergunta respondida nas urnas foi: “você deseja que a Catalunha se torne um Estado independente na forma de uma república?”.
Votaram as pessoas de nacionalidade espanhola com registro de residência na Catalunha e as que moram no exterior, mas cuja identidade tenha sido emitida por uma municipalidade na Catalunha.
Do total de eleitores aptos a votar, cerca de 43% compareceram às urnas. Desses, 2 milhões de pessoas – 92% dos votos válidos – escolheram a independência da região.
Essa consulta não foi a primeira realizada na Catalunha, e é consequência tanto de um processo histórico quanto político recente. Em 2014, houve um plebiscito simbólico, com resultados similares aos de 2017. No ano seguinte, em 2015, nas eleições regionais, o partido recém formado e pró-independência, Junts Pel Si (em português, Juntos Pelo Sim) venceu a disputa pelo governo da região com a promessa de convocar o referendo pela emancipação.
As bases do separatismo catalão
Como em outros movimentos separatistas na Europa, a demanda pela independência na Catalunha possui diferentes bases. Para os pró-independência, que apoiam a ruptura com o governo espanhol, a Catalunha é uma comunidade nacional própria e, além, diferente da nacionalidade espanhola.
A principal diferença está no idioma. O catalão é a língua utilizada na região e, apesar de também ser uma língua neolatina (como o português e o espanhol), sua origem está na região da occitânia (mais ou menos o sul da atual França). Já o português e o castelhano são idiomas de origem ibérica e, portanto, primos do catalão, mas com muitas diferenças.
Outra base do movimento é histórica. Assim como em outros movimentos separatistas europeus, o uso de uma narrativa histórica romantizada é essencial para a criação do sentimento nacional e o desejo por independência.
Para os catalães que apoiam a causa, a história da Catalunha demonstra que a região possui uma herança própria, com instituições, símbolos e momentos diferentes das outras regiões da Espanha.
As origens históricas da Catalunha
Mais que identidade e cultura diferentes, o motivo para a independência está no argumento de que a Catalunha teria sido conquistada pela Espanha dominada pelo reino de Castela. Então, a independência seria uma justiça histórica.
Deste ponto de vista, a origem da Catalunha está na reconquista da região pelos Francos, após séculos de domínio muçulmano, com a formação do Condado de Barcelona.
Esse condado medieval foi sucedido pela Coroa de Aragão, cujo símbolo eram as listras amarelas e vermelhas, as cores da bandeira da Catalunha. A Coroa envolvia três regiões: o Reino de Aragão, o Principado de Catalunha e o Reino de Valência – além de diversas posses de ilhas no mediterrâneo (reinos de Mallorca e Cerdeña) e Itália (reinos da Sicília e Nápoles). Desta forma, Aragão se tornou um dos mais poderosos reinos europeus da Idade Média.
A união de coroas e o fim da autonomia catalã
Muitos movimentos separatistas na Europa surgem como consequência da perda de autonomia de uma região. Na Catalunha não foi diferente.
No século XV, o rei catalão Fernando II de Aragão se casou com Isabel, rainha de Castela. É durante o reinado do casal que acaba a reconquista da península Ibérica e começa a conquista da América, o que levou a uma centralização de poder cada vez maior em Castela e a cidade de Madrid se tornaria a capital dos reinos espanhóis.
Isso gerou muitos conflitos e descontentamentos por parte dos habitantes da Catalunha. E a coisa só pioraria dali pra frente. Em 1702, Carlos II morre sem deixar filhos, deixando vago o trono do maior império global da época. Deu-se início, então, à Guerra de Sucessão Espanhola, que duraria 12 anos.
O vencedor, rei Filipe V, decide fortalecer seu poder e une as coroas na Coroa da Espanha, acabando com qualquer autonomia da região da Catalunha no ano de 1714.
Quer conhecer uma curiosidade que une história e futebol? A torcida do Barcelona, clube que se propõe como símbolo da identidade catalã, costuma fazer referência a esse ano, cantando pela independência aos 17 minutos e 14 segundos de cada jogo.
Catalunha nos séculos XIX e XX
Após a vitória de Filipe V, o que se viu foi uma queda no sentimento de identidade catalã. Ela só voltaria a se fortalecer na região no século XIX. Neste período, a Espanha enfrentou diversas crises, incluindo 3 guerras civis entre liberais e conservadores.
Simultaneamente, o movimento de romantismo cultural traria um renascimento da identidade catalã. A Catalunha juntou-se aos liberais e passou a demandar maior autonomia e participação económica, em um processo que vai culminar, décadas depois, na proclamação da Segunda República Espanhola, em 1931.
Durante os anos da Segunda República, a Catalunha pôde desfrutar de um estatuto, espécie de constituição local, com autonomia em diversos assuntos, incluindo a legalização do idioma catalão nas escolas, junto com o castelhano.
Contudo, a Segunda República Espanhola não duraria muito, com o início da Guerra Civil Espanhola, em 1936.
Durante a Guerra Civil, a maior parte da população catalã lutou pelos republicanos, uma frente que unia tanto liberais, quanto socialistas e anarquistas, contra os carlistas, compostos de nacionalistas, conservadores e grupos armados católicos.
A República foi derrotada, e o líder nacionalista, general Francisco Franco, tornou-se ditador da espanha entre 1936 e 1975. Seu governo autoritário foi marcado pela exacerbada identidade castelhana. Todos os idiomas e símbolos regionais foram proibidos, assim como governos locais e partidos políticos. Mais uma vez, a Catalunha agonizava sem autonomia.
A nova constituição e a recuperação da autonomia e identidade catalã
Após a morte de Franco, com a nova constituição espanhola de 1978 a Catalunha progressivamente recuperou sua autonomia e identidade. Hoje, a Espanha é um Estado Unitário. Isso quer dizer que a autonomia regional é concedida pelo governo central. Ela não é prevista em lei.
O contexto atual na Catalunha é de maior autonomia e identidade cultural, mas isso não amenizou o desejo por independência de boa parte de seus habitantes.
Por um lado, os catalães justificam sua independência por meio de sua identidade cultural e pelo fato de ser a região mais rica da Espanha. Segundo os pró-separatismo, a Catalunha paga mais impostos do que deveria e não é representada pelo governo central.
Por outro, o governo central estabelecido em Madrid afirma que todas as regiões, incluindo a Catalunha, são culturalmente espanholas, e que a separação da Catalunha causaria danos econômicos à região, visto que perderia mercados na Espanha.
O fenômeno do Nacionalismo liberal de Identidade Pan-europeia
A independência da Catalunha vem na esteira de um novo fenômeno no continente, o Nacionalismo liberal de Identidade Pan-europeia.
Segundo essa linha de pensamento, muitos movimentos pela independência da Catalunha abdicam o uso de armas, bem como não concordam com a superioridade de um grupo étnico sobre o outro.
Eles também defendem que a Catalunha mantenha sua presença na União Europeia, o Euro como moeda, e as fronteiras abertas, rejeitando uma ruptura traumática.
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